vrijdag 21 mei 2010

Tochtli e o Poderosinho

O realismo mágico pode ter deixado de ser o estilo literário mais representativo da literatura latinoamericana de hoje (vejam o meu texto sobre Volpi da semana passada), a realidade muitas vezes continua ultrapassando qualquer ficção. Justamente neste momento no qual estou lendo o excelente primeiro romance do jovem mexicano Juan Pablo Villalobos, 'Fiesta en la madriguera' (Anagrama), dou com um artigo da Folha de São Paulo entitulado 'Menino de dez anos chefia quadrilha de tráfico em SP'...
As duas histórias têm a ver uma com outra, a primeira sendo ficção e a segunda realidade. Primeiro a ficção: Villalobos conta a vida de um menino que adora os chapéus, os diccionários, as guilhotinas e os franceses (porque os franceses gostam das guilhotinas - lógico). Tochtli - é o nome dele - também é um fanático dos animais selvagens, e no jardim da casa do seu pai (desculpem: do palácio) tem um zoológico privado. Já agora fiquem a saber: o papai é narcotraficante, e o romance do muito prometedor Mexicano introduz o leitor no alucinante mundo dos cartéis visto pelos olhos de um garoto.
O garoto ainda não é traficante, não, mas as cabeças cortadas, os rios de sangue e os cadáveres mutilados estão onipresentes. "Incrível", achava eu - até que li o artigo na Folha: "A Polícia Militar diz que um garoto de cerca de dez anos é chefe de uma quadrilha de traficantes em São Manuel (272 km de São Paulo)." Este rapazinho não responde a um nome indígena ou precolombino, mas é conhecido como... "o poderosinho"! Contam uns amigos dele, aliás detidos na Operação Fraldário (what's in a name!): "Vende, recebe dinheiro e distribui drogas."
A América Latina pode finalmente ter deixado para atrás a fase do Boom e do realismo mágico, para a boa literatura é a mesma mina de sempre. Abraços! Lode

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